sábado, 17 de julho de 2010

Dia 03 (11/07/2010) – Nem só de História vive o historiador

Olá Amigos!
Sei que esta semana fiquei devendo o restante das postagens sobre o projeto de Goiás, porém por conta da minha dificuldade em organizar o tal do tempo não consegui fazê-lo por que estava muito envolvido com as provas do curso que estou fazendo.
Porém, vou tirar este final de semana para me dedicar exclusivamente a contar tudo sobre a viagem!
Hoje queria começar meu “relato de viajante” com uma imagem, ao invés de palavras:

Foto 01 – Sombra para Terezona e para o viajante

Dizem que “uma imagem vale mais que mil palavras”; se isto estiver correto esta fotografia resume meu 3º dia em Goiás!
Tirei a maior parte do dia para dar descanso para “carcaça” (como chamamos o corpo lá no serviço).
Sou um ser em constante crise de identidade; não sei se sou um historiador que se descobriu como agente, se sou um agente historiador ou se sou um agente que se descobriu como historiador...
Mas o fato é que historiador não tem conserto e antes de me deleitar na preguiça desta rede dei aquela “passadinha” no centro histórico para visitar o distrito de Santana, ao sul da cidade de Goiás.
Acordei por volta das 6:30hs e depois daquele banho, pus uma roupa adequada para encarar o dia e separei algumas coisas no bauleto para passar o dia no Balneário Santo Antônio.
DICA: nestas cidades históricas o dia geralmente é muito quente, por isso use roupas brancas e leves, por isso levei várias roupas claras e aquele “chinelo de dedo”.
Comecei pela parte alta da cidade, ou seja, pela Casa de Câmara e Cadeia, e depois dela fui apenas descendo para visitar o restante do distrito.

Foto 02 – Casa de Câmara e Cadeia

A Casa de Câmara e Cadeia trata-se de uma edificação de estrutura padrão em todo Estado e que reunia a Cadeia da cidade e/ou província, na parte inferior, enquanto na parte superior ficava a Câmara, que abrigava o poder político da antiga capital. Em outras palavras, reunia em um único lugar tudo o que não prestava: os “bandidos” e os “políticos”.
A Casa de Câmara e Cadeia de Goiás foi edificada entre 1761 e 1763, no largo onde se erguia o pelourinho, símbolo da autoridade municipal. A edificação teria sido erguida em local onde existira anteriormente outra, ou segundo outros, resultaria de ampliação da anterior e custou aproximadamente 35,6 Kgr de ouro.
Descendo o a praça do pelourinho podemos visitar o Chafariz e a Igreja da Boa Morte.

Foto 03 – Chafariz da Boa Morte

Foto 04 – Igreja da Boa Morte

Existem muitas explicações sobre a origem do nome “Boa Morte” (se é que existe algo de bom na morte); porém a versão e crença que me pareceu ser mais popular entre os populares da cidade é a de que uma freira que cuidava da Igreja (não consigo lembrar o nome dela), em sua velhice teve a visão de um anjo que lhe disse que seus dias estavam acabando e que ela teria uma “Boa Morte”; pouco tempo depois a freirinha morreu, sem dor, o que foi interpretado como uma Boa Morte.
O Chafariz da Boa Morte é o mais significativo exemplar do barroco de Goiás. Foi erguido entre 1772 e 1778 como parte de um conjunto de providências pendentes para introduzir melhoramentos urbanos em Vila Boa e evitar seu despovoamento, dada a diminuição da arrecadação aurífera. As bicas em seu corpo central abasteciam a população, enquanto dois tanques externos eram destinados aos animais.
Já a Igreja da Boa Morte teve sua construção iniciada pelos militares, mas não puderam concluí-la devido a uma proibição real que os impedia de serem proprietários de igreja. Por isso foi doada à Irmandade dos Homens Pardos e sua construção foi concluída em 1779.
É o único edifício da cidade que apresenta elementos característicos do barroco em sua fachada e desde 1969, a igreja abriga o Museu de Arte Sacra da Boa Morte, que possui imagens sacras de vários autores, com destaque para o artista Veiga Valle.

Foto 05 – Quartel do XX

Entre a Igreja da Boa Morte e seu respectivo Chafariz fica o imponente Quartel do XX. O Quartel do XX é o mais antigo edifício oficial da província. Foi fundado em 1747 com características arquitetônicas típicas das edificações militares do período colonial.
Em Vila Boa diversas companhias formavam sua guarnição militar cavalaria auxiliar, dragões pagos, pedestres, infantaria auxiliar, Henriques e ordenanças, porém ficou conhecido por ser o quartel do 20º Pelotão de infantaria, e por isso ficou sendo chamado de Quartel do XX.
A maior parte da história dos movimentos políticos e sociais do Estado de Goiás passam pelo Quartel do XX e foi dali que saíram os goianos que se juntaram às tropas brasileiras na Guerra do Paraguai.

NOTA: neste trajeto existem muitas casas de personalidades que influenciaram a história da província. Não quero fazer aqui uma história dos dominados e dominadores, longe disso, mas creio que seja importante saber quem já morou nesta região. Porém vou deixar para posta-las na guia histórico que prometi anteriormente. Por isso não percam os próximos posts! (risos)

Mais abaixo chegamos a “praça central do centro histórico”.
Imagino que deve estar se perguntando por que optei de escrever este nome entre aspas e em letras minúsculas!?!?!
Graças ao meu 6º, 7º e demais sentidos de historiador percebi que esta praça foi palco de diversas relações de poder da antiga capital. Porque sinto isso? Pela relações de sucessivos re-batismo da praça com nomes diferentes.
Dentre os diversos nomes que apurei naqueles dias posso relacionar: Praça do Coreto, Praça da Matriz de Santana, Praça Castelo Branco, Praça Dr. Tasso de Camargo e deve haver outros mais que não consegui conhecer...
Mas independentemente de todas estas “brigas” a praça não deixa de ser o centro da parte histórica da cidade! Para tentar ser imparcial não vou dotar nenhum destes nomes na fotografia, vou chama-la apenas de “praça central”, apenas para não tomar partido dessa “briga” que não é minha nem do meu tempo.

Foto 06 – “Praça Central”


Foto 07 – Terezona, na praça, diante o acesso ao Distrito do Carmo

Na frente da tal praça da “discórdia secular” (risos) se encontra o Palácio Conde dos Arcos e a Igreja Matriz de Santana, símbolos do poder político e eclesiástico, respectivamente, da antiga capital de Goiás.


Foto 08 – Palácio Conde dos Arcos e Igreja Matriz de Santana

Foto 09 – Igreja Matriz de Santana

Foto 10 – Interior da Igreja Matriz de Santana

Diz a História (ou seria a lenda?), que em 1742, quando o governador D. Marcos de Noronha, ou Conde dos Arcos, chegou a Vila Boa de Goiás, não encontrou residência disponível e nem sede física para o governo, nem para as diversas repartições e comunica o fato ao rei de Portugal, obtendo, então, autorização para construir o Palácio.
Porém quando obteve o valor orçamentado pelos artífices para a construção achou muito caro e optou por economizar e o governador resolveu adquirir 5 casas geminadas às quais depois de reformadas custaram 9.026 oitavas de ouro, um pouco menos que as 14 mil oitavas de ouro pedidas pelos artífices e oficiais.
Nelas, instalaram-se a Casa de Fundição e respectiva fábrica e mais o Palácio de Governo que receberia o nome de Palácio do Conde dos Arcos. Atualmente o Palácio sedia a administração municipal e abriga o Museu Palácio Conde dos Arcos. Todos os anos, no aniversário da cidade, volta a ser sede provisória do governo estadual.
Já a Igreja Matriz de Santana começou a ser construída em 1743 pelo Ouvidor Geral de Goiás, Manoel Antunes da Fonseca, que resolveu demolir a antiga capela que existia no mesmo lugar para edificar outra compatível com crescimento da cidade. A igreja foi planejada para comportar três vezes mais pessoas que a Catedral do Rio de Janeiro.
Segundo alguns populares, porém nem todos acreditam, que pelo fato de ter sido construída sobre os escombros da demolição da antiga Igreja, esta foi castigada por uma maldição em que boa parte de sua estrutura não consegue segurar reboco em suas paredes.
Diz a lenda, e a História Popular concorda, que bandeirantes encontraram às margens do Rio Vermelho, uma imagem de Sant’Anna e entenderam como uma mensagem divina de que deveriam construir ali naquele local uma Igreja dedicada a Sant’Anna.
É neste ponto que a lenda funde-se com a história, pois parte da população local crê que nova igreja, fruto de ambições sociais, tomava o lugar da vontade divina orientada por Sant’Anna e que depois a Santa castigou a nova construção derrubando e incendiando a nova construção por algumas vezes.
Lendas e crenças a parte, os historiadores afirmam que como a obra fora construída de maneira muito precária, em 1759 todo o seu teto desabou, e a população foi obrigada a arcar com os custos da recuperação. Com uma história de inúmeras reformas e reconstruções, teve seu projeto alterado diversas vezes e só em 1998 a igreja foi restaurada pela Diocese de Goiás em parceria com o IPHAN.

Foto 11 – Casarão

Ainda na “praça central” encontramos este belo casarão, que hoje serve o melhor Empadão Goiano que conheço! Sou apaixonado declarado deste prato típico de Goiás! Todas as noites eu aproveitei para ir lá matar a saudade desta delícia.

Foto 12 – Casa do Bispo

Foto 13 – Igreja São Francisco de Paula

Ao final do distrito de Santana podemos encontrar a bela Casa do Bispo de Goiás. Não são conhecidas a data exata da construção nem os primeiros moradores dessa casa. Sabe-se apenas que em 1909 o lugar foi adquirido por Dom Prudêncio, Bispo de Goiás, passando a ser utilizado como oficina do jornal O Lidador e pela secretaria do bispado. Construída em taipe e adobe, o edifício sofreu várias alterações e reformas ao longo do tempo. No final de 1987 a casa foi reinaugurada, passando a sediar a 17ª Sub-Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Diante a Casa do Bispo encontramos a Igreja São Francisco de Paula. Esta foi a terceira Igreja construída na cidade de Goiás. Tendo sido concluída em 1761, ela é hoje sede da Irmandade do Senhor dos Passos. Sua fachada apresenta a mesma simplicidade dos outros templos da cidade. Os forros, tanto da nave quanto da capela-mor, foram pintados por André Antônio da Conceição em 1869. Esta é uma das igrejas que ainda não consegui ver aberta.

Foto 14 – Mercado Municipal

O edifício do Mercado Municipal foi construído no início do século XX e se localiza próximo à Igreja São Francisco de Paula. A construção apresenta características do ecletismo, e se assemelha a um grande galpão. Suas salas se voltam tanto para o interior do pátio do mercado quanto para a praça da Rodoviária.
Seguindo antigas tradições, o lugar é ainda hoje ponto de encontro de parte da população, sendo também interessante para os visitantes, pois, além de mostrar a vida cotidiana da cidade, é um ótimo local para experimentar pratos típicos, como os famosos pastéis e o empadão goiano.

É hora de curtir preguiça!

Depois de dar uma voltinha pelo distrito de Santana era hora de ir curtir aquela preguiça no Balneário Santo Antônio e conhecer um pouco dos resquícios históricos da cidade de Goiás que fica ao longo da estrada e que nem são tão conhecidos.
O balneário fina na GO-070, 7 km em direção a Goiânia, onde entramos à direita e andamos por mais 5 km por uma estrada de terra.

Foto 15 – Igreja Nossa Senhora da Guia

Foto 16 – Muralha de pedras feita por escravos

A Igreja Nossa senhora da Guia está em um aglomerado urbano que fica separado dos dois distritos de Goiás, mas que pertence à mesma. Hoje só está separada fisicamente por conta de uma obra do tempo.
Talvez pelo fato de estar separada do centro histórico, aparentemente o IPHAN não se preocupou em resgatar a história desta igreja. Até os populares não souberam me responder muito sobre o passado desta Igreja. Resta a mim pesquisar sobre seu passado para tentar informar um pouco sobre a mesma.
Ao longo de toda cidade é possível se encontrar muralhas de pedras que insistem em permanecer de pé ao longo dos séculos. No período Colonial e Monárquico era comum os fazendeiros cercarem suas propriedades com muros de pedras utilizando a mão de obra escrava para empreender tal construção.
Ao longo dos séculos várias dessas muralhas desapareceram por que os populares começaram a retirar suas pedras para construir casas, porém, resistindo muito bem ao tempo, podemos perceber a perfeição da construção pelo trabalho escravo ao observar o encaixe das pedras que resistem sem nenhuma espécie de liga que unisse uma pedra a outra.

Foto 17 – Sede do Balneário, aos pés da Serra Dourada

O Balneário Santo Antônio é tudo de bom! Conta com uma ótima estrutura para quem quer comer bem e descansar. A natureza foi muito generosa com o local, além de estar aos pés da Serra Dourada ainda possível fazer uma bela trilha pelo Cerrado que ainda está bem conservado e mergulhar em piscinas naturais de água bem geladinha formadas junto as rochas negras da Serra Dourada. Sem contar com o belo parque aquático que foi construído recentemente. A entrada custa R$12,00 e o almoço custa R$12,99 por quilo.

Foto 18 – Parque Aquático

Foto 19 – Parte baixa do balneário

Sem contar com a arara que me arrancou muitas gargalhadas quando ela se irritou com o fio elétrico que encontrou pelo seu caminho

Foto 20 – Arara Canindé, sem convívio com a eletricidade

Depois de almoçar e curtir aquela preguiça que mostrei na foto 01 fui dar uma voltinha pela trilha que passa pelo Cerrado. Até Macaco Prego ainda tem por lá, sinal que o proprietário do balneário tem explorado economicamente o lugar de forma consciente! Parabéns a sua equipe!
E como ninguém é de ferro, ao final da trilha um mergulho para resfriar o calor.
Foto 21 – Passeio pelo Cerrado

Foto 22 – Córrego aos pés da Serra Dourada

Foto 23 – Piscina Natural

Ao final de uma tarde curtindo preguiça era hora de voltar ao hotel para tomar banho e jantar aquele empadão gigante que sou apreciador fanático, acompanhado de um detergente bem gelado (Coca-Cola) acompanhado com algumas rodelas de limão.
Depois disso, é lógico, apreciar a bela noite no Centro Histórico de Goiás.

Foto 24 – Casa do santeiro Veiga Vale

Foto 25 – Anoitecer da Cidade de Goiás

Foto 26 – Portão da Poetisa (estilo Betriz Barreto)

Foto 27 – Detergente Gelaaado (Coca-Cola)

Bem amigos, por enquanto é só, mas não percam o post do último dia de aventura na antiga capital. Além disso estou preparando um Slide-Show com as principais fotos da viagem e o prometido roteiro da cidade de Goiás.

Abraços e fiquem com Deus!
Elias Pinheiro

Um comentário:

  1. Adorei o seu relato do Projeto Goiás! Vc esteve bem perto da minha casa, o quintal( tem um pé de cajazinho) da poetisa( bem a esguerda do portão) fica em frente do meu portão da garagem( grande, de correr e azul). Obrigada pela imagem e homenagem. Abraço.

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